domingo, 15 de agosto de 2010

exercício de concentração

Coisas, cheiros, barulhos, cores.

Risadas, piadas, estórias.

O mundo lá fora e você aí dentro, do alto de sua torre.

Não, torre é coisa pra nobres, gente digna - você é só um velho noia no alto de um pico molhado. Barba por fazer, vendo os rios correrem, até darem naquela cachoeira, onde os animais vão se banhar e alguns jovens vão de vez em quando para simplesmente serem.

Quando foi a última vez que você tomou um gole d'água?

O que será que pensam aqueles jovens ricos em seus carros do ano e suas conversas frívolas quando te olham, hein, velho noia? Se é que te veem, né? Talvez se compadeçam. Provavelmente vão conjecturar sobre a sua vida, o que te levou até lá. "Esse maluco deve ter tomado um chá de fita fodido." "Ou comeu algum cogumelo aqui nesse pico e nunca mais voltou pra casa. Que bad."

Mal sabem eles, não? Que seus problemas são outros... que você não perdeu o rumo de casa, não - você abriu mão, isso sim. Você abriu mão do mundo. O mundo já parecia ter aberto mão de você há muito tempo, então você finalmente criou coragem pra abrir mão do mundo.

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Ou talvez não. Talvez sobre toda essa aparência calculadamente vitimizada... Porque quem nunca às vezes precisa se distanciar do mundo? O velho se concentra. Sente o ar úmido entrar e sair por suas narinas. Pisa com os pés sujos na grama molhada. Tudo, tudo, tudo é gelo - tudo é um cadinho ardente. E ele deixa o gelo daquele limbo se fundir com sua pele... E nada mais. Nada mais importa. Por que ele está lá? Por que ele está sozinho? Por que ele não se assusta com a solidão gelada do pico?

Nada disso importa. Ou talvez tudo, tudo importe - não ao redor dele. Ao redor do mundo. Dizem que ele é um maluco, que ficou louco de "preda". Talvez ele seja uma pedra, ao se recusar a girar junto com o mundo.

Mas, querendo ou não, a pedra está muito mais integrada ao mundo do que todo o resto. Onde termina a pedra e onde começa o resto do chão, do monte, do relevo?

A pedra tudo sente. Tudo, tudo sente. Tudo lhe afeta.

Mas nada lhe assusta. Nada lhe mata.

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Ai que pira.

aninhado

(me desculpa, texto. você não merecia ser escrito agora. desculpa mesmo. mas se não fosse agora, não seria nunca - melhor assim, bem meia-boca do que morto dentro de mim, né?)

Hoje quero dormir tranquilo. Tranquilo feito um passarinho azul encarapichado no alto de uma árvore num sítio bem simples...

Sabe, vida de passarinho num sítio tranquilo? Assim, levantar com os raios do sol quentinho, desce, pega uma minhoca, volta. Depois vive, tem filhos, e morre, assim, sem muito drama, nas mãos de um bicho maior. De repente - CHUFT! - morreu.

As coisas, simples, nuas, diretas, desse jeito. Afinal, o que são as coisas e os fatos? São somente... acontecimentos. Nada mais. A gente é que dá valor a eles, né? Uma caneta que cai é só uma caneta que cai. Água, água é só água. Um olhar é só um olhar. Um sorriso às vezes é só um sorriso - ué, quem disse que as alegrias e as felicidades tem que ter motivo? Precisa, oxe? Porque ela não pode, simplesmente, chegar, tal qual o passarinho - NHACT - pega a minhoca. Precisa tudo ter motivo, razão ou circunstância?

Não, hoje não. Hoje as coisas são simples. Poderia estar conjecturando, sonhando, com chãos pra pisar, céus e sóis para ver, horas para vivenciar, sensações para sentir, pessoas para tocar, trocar, música pra se cantar... Mas não, hoje não. Hoje quero só sentir o que está ao meu alcance - os tecidos, as temperaturas, as luzes. As falas, os barulhos. Os sonos.

E talvez, também, sonhos. Como somente o que são - sonhos, sonhos, deliciosos sonhos. E nada mais.

Boa noite!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Poesia de intervalo beletrista

O amor
É uma dor
Que dá calor
E causa fervor

por Maitê Scavasin e Paulo Araújo.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

my brown eyes

(ia trocar o título mas acho que combina. por n motivos.)
Parece que, depois que a gente morre, a última imagem do que vimos fica gravada na nossa retina. Se é verdade, não sei. Mas talvez seja.

Ontem antes de dormir e hoje ao acordar, mais uma vez fui invadido por uma sucessiva chuva de imagens que já passaram por meus olhos. Algumas acabam sofrendo um Photoshop mental aqui e ali, né? Às vezes até sem querer, demora pra gente reparar que certas memórias não se passaram exatamente do jeito que a gente lembra. Mas ah, são memórias mesmo. Nada representam. São suas, total e completamente suas.

Porque, sim, o processo de memórias é totalmente solitário, não se iluda você; e não fique putinho quando você perceber que este ou aquele fato que você dividiu com outras pessoas parece ter passado mais despercebido que um dente de leão no meio de um terreno baldio (aquele, que só você viu, correu até lá pra assoprar e depois saiu correndo gritando pra te esperarem e simplesmente voltou pro cinza urbano). Quantas vezes você já não fez isso com os outros também, oras? Isso acontece. É assim que a gente funciona ou aprendeu a funcionar. Paciência.

Sendo as memórias de propriedade exclusivamente particular, cada um brinca com elas como queira, certo? Eu às vezes brinco de slideshow com as minhas. Não vou me lembrando muito de cenas inteiras, filminhos... não - gosto das minhas memórias organizadas como fotos em minha retina. As estruturas de roteiro de cinema ou até de videoclipe eu costumo guardar pras projeções: o que vai acontecer, o que pode acontecer, o que poderia, o que deveria, o que nunca vai... Essas sim eu amarro como filme. Pro que já passou, uma imagem, aquela, a crucial, a derradeira, basta. Uma imagem.

Ao ser atacado por várias imagens, todas, ao mesmo tempo, de memórias diferentes, que remetem a sentidos e sensações diferentes, nas primeiras horas da manhã, onde o cérebro ou se prepara pra desligar ou acabou de reiniciar, sou atacado por uma inquietude. Fico ali, me revirando, de olhos fechados, deixando meu cérebro ser atacado e sentindo uma agonia.

Agonia, daquelas dignas de leito de morte. Talvez fico ali, esperando ela chegar, quase pedindo que ela chegue, sem de fato querer de verdade, mas sentindo que ela vem. Será que é esse o flashback que dizem que se sente na hora da morte? O show de imagens da retina.

Pra, no fim, ficar estampado o teto branco encardido e escuro de um quarto gelado e sem-graça de um condomínio classe média qualquer. Não me parece nada justo.

Se eu pudesse escolher a última imagem que vai ficar gravada na minha retina, qual seria?

quinta-feira, 29 de julho de 2010

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nessas tardes despidas (por quem?) de sentido, só o que consigo sentir é asco.


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pra alguns, verde é a cor da inveja; pra mim é a da esperança. mas por vezes ela pode ser o verde da peçonha, aquela bem corrosiva.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

primeiro degrau

era uma tarde chata. muito, muito chata. não chegava a ser maçante pois pra mim "maçante" sempre casa bem com "mormaço" e esse frio paulistano de Julho não combina com a ideia.

mas era uma tarde bem parada. aquela sensação semigélida estava no ar mas não tinha nenhum ventinho pra balançar as árvores, nenhum passarinho cantando na janela, nada. o Sol não deu as caras mas também não se escondeu, porque o dia não estava exatamente nublado. como eu disse, chato.

claro que algum espertinho vai querer dizer que "ah, segundas-feiras são desse jeito mesmo", mas não é o caso. essa tarde não tinha esse quê de responsabilidade, de pressão, de recomeço da rotina que uma tarde chata de segunda-feira tem. era apenas... chata. essencialmente chata. chata sem razão. chata sem motivo. não dava pra culpar o calor inexistente, o frio, a segunda...

e talvez por isso essa tarde meio chata, meio besta, tenha sido um dia tão marcante. porque precisava ser? porque era necessário negar que o mundo é capaz de ser tão... excruciantemente chato? é, talvez. mas acho que... porque um dia chato desses é quase como uma negação do externo. o ambiente não me propunha grandes surpresas. estávamos apenas eu e eu. por um instante, o mundo parou e era só eu. e isso tem tudo a ver com a reflexão e a descoberta que eu fiz, a ausência do ambiente. não só precisava fazer alguma coisa, dependia só de mim quebrar aquele marasmo, como também me vi livre, parando pra pensar agora. quase perdi a chance de aproveitar essa liberdade, mas de certa forma consegui rs

a tarde ia chata como de costume, as janelas abertas deixavam entrar aquela sombra do que um dia o Sol já foi ou a promessa do que ele pode ser quando esse inverno chato terminar. andava pela casa quando me deparei com o corredor. Lá, na minha frente, estava ele. e eu não pude escapar dele dessa vez.

o corredor de casa tem um quê de opressor, então talvez o ambiente não tenha sido fator nulo como eu descrevi rs. aquela iluminação fraca, pálida, o corredor pequeno, porém vazio e somente uma coisa entre você e o conforto e privacidade dos quartos. é impossível não olhar pra ele. é impossível não se olhar. e, talvez, como não havia nenhuma pressão externa, a pressão do corredor venceu: como eu iria abaixar a cabeça e seguir adiante? quais compromissos eu ia lembrar, fingir, inventar numa tarde chata e tediosa? que desculpa eu poderia dar pra mim mesmo? estava totalmente desarmado. aberto. desprevenido. ingênuo. talvez fragilizado.

olhei no fundo dos olhos. que eu finjo que não conheço, mas conheço muito bem. que foram do natural à surpresa à vergonha e depois ao olhar plástico de quem fazia o que eu estava fazendo em milisegundos. mas por um instante, eu vislumbrei. consegui! sem querer e contra minha própria vontade, consegui quebrar minhas próprias defesas. me invadi! me feri!

e talvez mais importante que isso tenha sido descer os olhos. e... sorrir. talvez muitos de vocês não entendam. talvez ninguém entenda. mas... pra mim é importante. e se não for a barreira essencial pro meu crescimento, é a primeira, a que está logo no começo, os portões de mármore (existe isso, de mármore? foda-se, os meus são rs) que controlam a passagem. que me deixam... refém. refém, aqui, da minha cabeça, das minhas piras, das minhas inseguranças.

talvez seja meio narcisismo. talvez seja muito narcisismo. talvez seja abominável. mas talvez eu precise aceitar que tenho um narcisismo distorcido pra conseguir seguir em frente. talvez eu precise usar isso de muleta pra ser tudo que eu quero ser, sim. mas foi muito bom. foi tranquilizante. eu comigo mesmo não precisei me criticar. não precisei apontar defeitos. eu pude... me aceitar. me admirar. não precisei temer ser feliz comigo mesmo e ver alguém chegar e assoprar o castelinho de areia que é minha autoestima.

é horrível, tenho até vergonha de escrever isso porque pode ficar brega, pode ficar feio, mas... ah, não quero mais ter medo disso também! então que saia do jeito que sair. porque não quero mais, não quero mais, não quero mais ter medo, não quero mais me punir e me esquadrinhar antes que alguma alma infeliz o faça, e talvez nem queira mais ter medo dessa gente que faz esse tipo de coisa! cada um sabe de si e que eles tomem essa postura ridícula se tiverem que tomar. cansei. cansei!

eu me olhei no espelho e vi um homem. um homem ainda novo, mas um homem. um homem sem camisa. um homem perfeito? de forma alguma. mas, mesmo um pouco acima do peso... um homem bonito. um homem atraente. um homem, que mesmo não sendo perfeito, mesmo não tendo o corpo perfeito, é um homem no sentido mais sexual da palavra. um homem. um homem com corpo de homem, com ombros largos, com tronco grande, com pernas que podem aguentar o peso metafórico e físico de ser assim. um homem.

como disse, talvez muitos de vocês não entendam. também não sei explicar! sei que é importante pra mim. sei que é importante pra mim mexer no âmago, nas vísceras. eu quero ser aquele que vai mexer no primeiro instinto básico. quero ser animalesco. quero ser pele. e só.

eu não quero mais ter vergonha de gostar de mim mesmo! eu gosto. e um dia isso vai ser só o que importa. :)

quero ser o homem que um dia vai poder cantar, de peito aberto, esse verso:

when I look at myself in the mirror
I don't have to feel ashamed
now it couldn't be much clearer
I'll never have to search again
when I look at myself in the mirror
I don't even recognize
the boy all about the glitter
cause now I see me by my side
when I look at myself in the mirror...

Boa noite!
;***

domingo, 4 de julho de 2010

a small reminder

To anyone who might find this useful other than myself.


Nobody knows what life may bring
It might make you happy
It might make you sad
Sometimes, yeah!

But I know there's a reason for everything
That's why I keep believing
Whatever's meant to be
Is gonna be

If I had to do it all again
I wouldn't take away the rain
Cause I know it made me who I am
If I had to do it all again
I learn so much from my mistakes
That's how I know He's watching me

and I wish you, whoever you might be reading this, a great and thoughtful night just like I had.
;***

sábado, 26 de junho de 2010

quando fala a alma...

Pegando carona na frase que lhe dá título, sinto que este post mais vai parecer um trabalho de faculdade do que outra coisa: não consigo escrevê-lo, não sei como fazê-lo, mas ele precisa ser feito.

Quero falar sobre essa urgência. Sobre essa vontade incontrolada de vomitar, de cuspir, de berrar, de gritar, espernear, de dizer. Dizer. O quê? Dizer simplesmente por dizer? Não sei. Já não sei mais. Só sei que eu PRECISO dizer! Só sei que há esse caroço grudado, preso na minha garganta, um misto de vontade de choro engasgado com ânsia de vômito.

Sabe o alívio que se sente quando se vomita? Já imaginou estar vomitando por dias, semanas, talvez meses, e não sentir o alívio? E a explosão de caos no estômago e na sua cabeça continuam, sua garganta continua rija, tesa, se preparando para o desabafo final e... é sempre o penúltimo. É sempre ele, aquele último engasgo antes do fim. Mas o fim parece nunca chegar...

E nada satisfaz. Nada. Você tenta, tenta e tenta. Como eu estou tentando agora. Mas só consigo reler estas linhas e pensar... que porcaria. Mas dessa vez não quero voltar atrás. Só dessa vez. Me permitam só mais essa vez...

O problema de vomitar é que você sempre acaba causando desconforto em alguém. É nojento. É repugnante. E esse vômito linguístico que sinto não é muito diferente... O pior é saber que não só você causou incômodo mas... De repente, são tiros. Balas. Disparadas de mim para... Mim mesmo. Balas que parecem sempre bater em seus alvos e voltar de encontro a mim. Há uma redoma, fina, mas tão forte... Pensando bem, talvez seja o que eu mereça ao imaginar um diálogo na minha cabeça como um tiroteio.

Mas na sua cabeça você nunca quis atirar em ninguém, você nunca quis enojar ninguém. Você só esperava que entendessem... você PRECISA botar pra fora. E ainda assim... você sabe que a única coisa que você faz é criar um abismo cada vez maior. É como se para cada palavra proferida, a distância entre os falantes fosse de milhas e ela aumenta vertiginosamente. E com a vertigem... vem mais ânsia. Mais, mais, muito mais. Você sabe que o abismo vai aumentar mas você não consegue e você tenta se esticar e segurar com as duas mãos e toda a força que você tem... mas você carrega aquele nó na garganta por tanto tempo e ele aumenta cada vez mais e... Seu organismo finalmente vence e você bota tudo pra fora de novo.

E você bota tudo a perder de novo. As caras de incompreensão, de "quebra-cabeça", de "hein?", de nojo. Tudo o que você quer é fazer sentido. Tudo que você quer é ser compreendido. E aí você desiste. E aí você entrega os pontos e tenta ser educado e não vomitar no tapete alheio. Você segura até onde dá. Mas aí seu peito começa a doer, seus braços começam a ficar moles e de repente... A ânsia fica incontrolável. De novo. E de novo. E de novo.

Poderia dizer para sempre, mas não quero me sentenciar. Embora eu acho que a sentença já tenha sido proferida há muito, muito, tempo.

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Desenvolva a frase de Schiller: "Quando a alma fala, já não fala a alma."

Foda-se a explicação teórica. Foda-se o que a academia deseja que eu pense sobre esta frase.

Eu quero é saber o porquê. O porquê d'eu entender perfeitamente o que essa frase diz, num plano sentimental, emocional, racional, em todos os planos que conheço da minha existência.

O porquê d'essa frase mexer tanto comigo que eu não consigo sequer colocar em palavras o que eu sinto a respeito dela. E a respeito da maioria das coisas. Minha alma grita e se move para um milhão de direções ao mesmo tempo e só consigo reproduzir uma. E a dor de não conseguir reproduzir todas as outras 999.999 direções é HORRÍVEL. É lancinante. É como um pedaço de metal que corta breve a carne do meu peito e primeiro eu sinto o frio e um arrepio e depois tudo queima, arde, pulsa.

Por que o sangue desses cortes não corre solto e me mata logo, em questão de minutos? Por que ele tem que gotejar pouco a pouco? Até quando vou ficar assim?

Por que tenho esse anseio de botar a alma pra fora, de deixar ela falar, fluir, sair? Por que ela não se aquieta de vez dentro do meu peito, quietinha, como uma fera domada, ou pelo menos saciada?

Por que continuo enfiando os pés pelas mãos, tateando no escuro? Minha alma grita e me açoita por dentro, eu preciso tomar uma atitude, mas sempre que faço o que acho melhor, sempre que (me) exponho, digo, penso, expresso... Parece que alguém sempre sai ferido, além de mim, no fim das contas.

Então esse é o preço de buscar a minha paz? É vomitar veneno? Então talvez seja bom que minha fala crie abismos entre mim e o mundo.

E tudo o que eu queria era ser compreendido. E tudo que eu queria era acalento. E juro que não só pra mim. Mas parece que sempre termina em choro. Toda vez que abro a boca, alguém no mundo chora. E me dói saber que não consigo trazer paz para mim nem pra ninguém.

E se a dor de não conseguir dizer tudo é grande, então a dor de dizer 1/1.000.000 do que se tem pra dizer e mesmo nessa pequena parcela você ser incompreendido é... inominável. Inominável.

Será que ninguém consegue ver? Será que ninguém vai conseguir entender o que eu tô dizendo? Pelo amor de Deus, alguém precisa no mínimo ver que toda vez que a comunicação se parte, se racha, eu choro por dentro. Me expresso mal, sou mal-interpretado e fico doendo, doendo... Morrendo de medo e dor de pensar que um diálogo que deu errado pode ter uma infinitude de consequências drásticas, horrorosas e terríveis. E aí eu queria passar uma borracha e voltar atrás de tudo...

Por que a gente sente esse anseio de comunicar? De que adianta a linguagem ter nascido desse anseio de comunicar se a comunicação é sempre falha? E se... Talvez não faça sentido isso e me doa mais ainda por dentro por não ser compreendido, mas se a linguagem nasceu por que não nos entendemos, então o ideal seria não nos comunicarmos. Só consegue compreensão aquele que não diz nada.

E mesmo depois de ter escrito tudo isso, ainda sinto que falta mais coisas. Muito, muito, muito mais coisas! Quero pedir desculpas e não sei por quê, não sei pra quem.

Só sei que eu queria conseguir me calar. Não aguento mais. Quero um mundo preto e branco onde eu seja só lágrimas, cigarro e nada mais. Não quero falar.

Nós não falamos a língua, nós somos falados pela língua

ENTÃO ME DEIXA EM PAZ! NÃO QUERO FALAR, NÃO QUERO FALAR, NÃO QUERO FALAR, NÃO QUERO FALAR, NÃO QUERO FALAR! PARA DE ME USAR, PARA DE ME FAZER DIZER COISAS, PARA DE ME MACHUCAR!

E se existe Deus nesse mundo, hoje, pelo menos, me calo.


sábado, 12 de junho de 2010

Carta para meu ex

(Esse post começou como uma série de testimonials no orkut mas achei melhor postar aqui. Recomecei porque não consegui achar. Será que cliquei no "cancel" sem querer? Enfim...)

Oi. Passei pra ver como você estava.

Sei lá, tô bem sensível, acabei de levar uma rasteira bem forte da vida e tô aqui refletindo... Sempre que alguma coisa forte acontece a gente para pra fazer uma retrospectiva, né? Acho que é natural. Aí lembrei de você. E resolvi que queria te dizer algumas coisas... Espero que você não ache nada disso invasivo.

Tô muito feliz de ver que você tá bem! Tô muito feliz de ver que você continua bonito. Tô muito feliz de ver que você continua com aquele sorrisão de criança. Tô muito feliz de ver que você fez a tatuagem que tanto queria! Tô muito feliz de ver que você parece tá saindo mais, indo pra rua, encarando o mundo.

Tô muito feliz de ver que você, finalmente, tá na faculdade! Tô muito feliz de ver você dando um passo pra ser tudo o que você quer ser. Ou quis, né? Não sei, sonhos mudam. Mas independente de os seus terem possivelmente mudado, é um passo a mais pra provar pra você mesmo que... você nunca precisou provar nada pra ninguém. Mas espero que as descobertas dos terrores de uma universidade pública não te deem medo nem raiva. Sempre te disse que a universidade não era cor-de-rosa e a descoberta é frustrante mas necessária. Enfim, espero que você esteja ganhando mais tranquilidade com as experiências da facul.

Espero que você ganhe mais tranquilidade com a vida. Espero que você e sua mãe consigam se entender - não do jeito milagroso que eu, que sou um chato, hipócrita, pentelho e entrão queria. Quem sou eu pra querer alguma coisa por vocês? Mas que você consiga ter paciência com ela. Que se lhe faltar amor de filho para mãe, que lhe sobre compaixão.

Espero que essa depressão, essa maldita doença, finalmente lhe dê sossego. Ou espero que você dê sossego a ela - que consiga lidar com a existência dela, que consiga driblar seus artifícios, suas armadilhas e que você não a use mais de muleta quando ela na verdade é mais uma bigorna na cabeça do que um apoio para os pés.

Fico feliz de ver que você está se envolvendo com outro cara! Ele parece ser bacana. Desistiu de pegar urso versão light e voltou pro original, é? Hahaha... Vocês ficam muito bonitinhos juntos. E acho que ficar "bonitinho" é muito mais legal que qualquer outra coisa pra um casal, né? Melhor que ficarem "lindos", "combinarem muito", "parecerem ter muita química" (embora ter a química em si seja ótimo, sempre!) e essas coisas.

Espero que você e ele formem um casal saudável e feliz, pelo tempo que tiver que rolar. Que dure o tempo que tiver que durar e que ninguém saia (mais) machucado (do que deve). Que se ele tiver que ser o cara que vai te dar sua casa e batalhar os sonhos que você dividia comigo, então que seja tudo maravilhoso! Mas que se ele não for, que nenhum de vocês faça o outro sofrer. Que nenhum de vocês aja de forma cruel com o outro. Que nenhum de vocês jogue coisas na cara um do outro. Que nenhum de vocês perca a cabeça e perca a gentileza e delicadeza junto.

Acho que isso foi mais pra mim mesmo do que pra você... Me sinto muito culpado por minha parte no desgaste da nossa química. Prometi que seria forte, firme, paciente e... como sempre na vida, falei mais do que devia. Não pude bancar o que prometi. E é óbvio que isso já não é um problema - você está feliz com outro cara - mas ainda assim, me sinto culpado. Espero que você consiga me perdoar por isso um dia.

Que ele seja tudo isso que eu não pude ser - paciente e compreensivo. Que ele sempre possa e consiga te acalentar naqueles dias que nem mesmo um acontecimento sobrenatural ou sobre-humano consegue fazer seu choro - tão sincero, tão doído, choro de neném que sofre de verdade a ausência do peito da mãe ou do brinquedo, seu choro sempre arranhava meu coração de cima a baixo - passar. Que ele te ame muito, muito, muito.

Pensando agora, dá uma ponta de tristeza pensar que tenho que acompanhar sua vida à distância agora, mas acho que nós dois sabemos o porquê e não há o que questionar, né? Mas é muito esquisito. A gente curtiu tanta coisa junto... A gente passou por tanta coisa junto. Acho que você viu coisas em mim que talvez nem meus pais, que montaram esta porcaria de quebra-cabeça desengonçado, incompleto e pobre que eu sou, conseguiram enxergar qualquer vez na vida. E eu me inseri tão forte na sua vida, tão forte... E agora cá estamos nós, sem nos falar. Não que eu ache que devemos ser amigos - não é assim que funciona. Se for pra ser, então seremos, mas acho que não é isso que vai acontecer, né?

Mas queria que você soubesse que ainda sinto... Não sei, não é amor, não é carinho, mas tem um pouco dos dois. É um sentimento tão etéreo e como você é o primeiro ex que tenho, pra mim é algo muito novo. Só sei que é uma coisa boa. Mas ao mesmo tempo é triste, o que é estranho. Não deveria ser triste, afinal, nós dois estamos aí, vivendo nossas vidas e sendo felizes, genuinamente! (talvez eu deva me excluir dessa parte pois agora sou qualquer coisa além de feliz, enfim...) Mas é triste lembrar que... deu errado. Que o amor acabou. E não acabou só pra um, acabou pros dois, acho que na mesma hora. E mesmo com essa reciprocidade do fim... É triste. Será que é triste pelos sonhos que a gente teve que enterrar?

Os sonhos... O sonho de ser o "Doutor Araújo", né, senhor rouba-nome? O sonho de ter uma cara, um carro e cachorros. Possivelmente filhos. Não que nós ainda não sonhemos com isso (na verdade, eu não sonho mais com isso, mas espero que você ainda não tenha se privado desse sonho) mas agora é com outras pessoas, outras casas, outros cachorros, outros carros, outras vidas medíocres dentro desse sistema porco, outras viagens pra outros países (embora eu desconfie que o Japão e a Inglaterra ainda estejam no seu mapa dos sonhos), outras línguas a serem aprendidas juntos, outros bebês para mimar e dividir a experiência da paternidade...

Juro que tentei recontar na carta os nossos sonhos em conjunto, mas eram tantos, né? Acho que não consegui. Mas tenho certeza que você sabe. E se não se lembra, oh, tanto melhor pra você - não me incomodo de ficar de luto por essas coisas sozinho.

E, sabe, mesmo não me arrependendo de nada, talvez a palavra seja essa. Luto. Não me permiti ficar de luto por você, por nós. Sei lá, tive uma oportunidade de viver outra história com outra pessoa logo em seguida e... Não tive dúvidas. Entrei no barco. Enfim, acho que não condiz com esta carta dizer todas as implicações desta viagem, mas, pelo menos até o presente momento, tudo indica que ela também acabou. E agora eu estou aqui, na praia, olhando meu mar, sozinho outra vez.

E dentre as coisas que vejo, tem você... E queria que você soubesse que, por mais turbulento que tenha sido, não me arrependi do ano inteiro que tivemos juntos. Que não foi perfeito mas a gente deu o melhor de si pro outro. E é triste que nosso melhor não tenha sido suficiente mas... pelo menos não foi por falta de entrega, de companheirismo... falta de Amor não foi o que matou a gente. Então, acho que a gente pode seguir de cabeça erguida e consciência tranquila.

Queria que você soubesse que vou levar você sempre comigo, dentro de mim. Que você foi muito importante, mesmo, que eu aprendi DEMAIS (mesmo sendo prepotente e tentando te ensinar tanta coisa, hahaha! Mas juro que não foi por maldade) com você. E que, talvez... Talvez ninguém mais vai me amar do jeito que você me amou. Talvez ninguém mais vai se dedicar tanto a mim quanto você se dedicou. E que eu vou ser eternamente grato às forças que regem este mundo por você ter sido a primeira pessoa. A primeira pessoa que não só permitiu que eu tocasse sua alma como sentiu um anseio enorme de que isso acontecesse.

E aconteceu, não?

Jojo, você não foi meu marido, mas sempre vai ser meu primeiro namorado.

Se cuida!