sexta-feira, 6 de agosto de 2010

my brown eyes

(ia trocar o título mas acho que combina. por n motivos.)
Parece que, depois que a gente morre, a última imagem do que vimos fica gravada na nossa retina. Se é verdade, não sei. Mas talvez seja.

Ontem antes de dormir e hoje ao acordar, mais uma vez fui invadido por uma sucessiva chuva de imagens que já passaram por meus olhos. Algumas acabam sofrendo um Photoshop mental aqui e ali, né? Às vezes até sem querer, demora pra gente reparar que certas memórias não se passaram exatamente do jeito que a gente lembra. Mas ah, são memórias mesmo. Nada representam. São suas, total e completamente suas.

Porque, sim, o processo de memórias é totalmente solitário, não se iluda você; e não fique putinho quando você perceber que este ou aquele fato que você dividiu com outras pessoas parece ter passado mais despercebido que um dente de leão no meio de um terreno baldio (aquele, que só você viu, correu até lá pra assoprar e depois saiu correndo gritando pra te esperarem e simplesmente voltou pro cinza urbano). Quantas vezes você já não fez isso com os outros também, oras? Isso acontece. É assim que a gente funciona ou aprendeu a funcionar. Paciência.

Sendo as memórias de propriedade exclusivamente particular, cada um brinca com elas como queira, certo? Eu às vezes brinco de slideshow com as minhas. Não vou me lembrando muito de cenas inteiras, filminhos... não - gosto das minhas memórias organizadas como fotos em minha retina. As estruturas de roteiro de cinema ou até de videoclipe eu costumo guardar pras projeções: o que vai acontecer, o que pode acontecer, o que poderia, o que deveria, o que nunca vai... Essas sim eu amarro como filme. Pro que já passou, uma imagem, aquela, a crucial, a derradeira, basta. Uma imagem.

Ao ser atacado por várias imagens, todas, ao mesmo tempo, de memórias diferentes, que remetem a sentidos e sensações diferentes, nas primeiras horas da manhã, onde o cérebro ou se prepara pra desligar ou acabou de reiniciar, sou atacado por uma inquietude. Fico ali, me revirando, de olhos fechados, deixando meu cérebro ser atacado e sentindo uma agonia.

Agonia, daquelas dignas de leito de morte. Talvez fico ali, esperando ela chegar, quase pedindo que ela chegue, sem de fato querer de verdade, mas sentindo que ela vem. Será que é esse o flashback que dizem que se sente na hora da morte? O show de imagens da retina.

Pra, no fim, ficar estampado o teto branco encardido e escuro de um quarto gelado e sem-graça de um condomínio classe média qualquer. Não me parece nada justo.

Se eu pudesse escolher a última imagem que vai ficar gravada na minha retina, qual seria?

Um comentário:

Samuel G. disse...

eu queria que não ficasse imagem nenhuma, na minha. sei lá. completamente vazia seria mais agradável. ou uma mistura de tudo que já passou por ela - o que não deixa de ser uma coisa bem vazia também, de significado.

e se a gente morrer de olhos fechados, será que fica a imagem do sonho?