quarta-feira, 8 de julho de 2009

Vida de Coadjuvante (A Tragicomédia do Menino Inho)

Sou um ator coadjuvante na peça da minha própria vida.

Quando foi a primeira vez que eu ouvi essa frase? Não sei... será que eu que bolei e não lembro? Hahaha mas se surgiu da minha cabeça ou não, isso não me importa muito. O que me importa mesmo é que eu já perdi a conta de quantas vezes disse ou pensei dizer essa frase.

Fato é: já não sei mais quanto tempo faz que não consigo dizer quem é Paulo. Quem é Paulo? Mesmo? Sabe, não é o famoso clichê do "não me conheço" porque, francamente, quem é que se conhece 100%?

Não, senhores, é muito pior que isso. É... não ter o que conhecer.

Vamos lá, vamos tentar colocar adjetivos no substantivo Paulo. Você consegue colocar "filho caçula problemático", "amigo semi-presente", "ombro amigo", "colega de faculdade ausente", uma infinidade de coisas. Tá, mas... o que essas coisas te dizem sobre o Paulo? Absolutamente nada, não é mesmo.

É... pois é. Você ter sempre que ter que ser conectado a imagem de outra pessoa, sabe? Quando será que foi que começou? Quando será que a minha vida passou a ser uma colcha de retalhos de todas as figurações que eu faço nas vidas alheias?

Acho que a primeira vez que isso me incomodou de verdade eu era bem pequeno, talvez novo demais pra entender o porquê ser chamado sempre de "irmão da Isa/do Victor/do Marco" me incomodava tanto. Mas fato é que incomodava. Não importa quantos beijos e apertões eu ganhasse das amigas da minha irmã e dela mesma - isso não mudava muito meu status de bibelô, de Homem Samambaia.

(E a vida é tão ridiculamente óbvia que anos depois ganhei o apelido Cenourinha.)

Isso me perseguiu por um tempo até eu simplesmente parar de me importar. Mas parar de me importar nunca mudou muito o fato de que os meus amigos todos sabiam o nome dos meus irmãos e isso me dava uma pontada incômoda de tempos em tempos...

Eu ia prosseguir falando das amizades, mas já que falei tanto da família e família é o início de tudo mesmo, não tem jeito, falemos da família: somos em quatro. Isa, a primogênita, a única filha mulher. Victor, o segundo, sempre foi o orgulho dos pais. Marco, o terceiro, era o capeta da família. Paulo, o caçula, sempre foi... o caçula.

Convenhamos que também não é justo com a minha irmã ser lembrada sempre como "a única menina" mas acho que na verdade isso foi mais preguiça minha de tentar descrever ela rapidamente. Mas acho que "a única mulher" diz muito mais (ou pode dizer) sobre uma pessoa do que o "raspa do tacho". Sabe?

Com o passar do tempo, consegui ganhar a alcunha do filho nervosinho. E, pra falar a verdade, sabe que eu tenho quase saudades dessa alcunha? Porque era uma marca minha, sabe? A gente vai crescendo e se enchendo de valores do que é certo ou errado e se podando e sendo podado e aí... pera, depois eu concluo isso.

E aí eu fui crescendo. E, como eu disse aí em cima, a gente vai aprendendo, vai se podando, vai aprendendo mais sobre regras da sociedade, essas coisas que todo mundo sabe. E aí eu passei a deixar minha marca! Eu era o Paulo. Eu tinha meus amigos. Eu tinha muitos deles, aliás (na minha cabeça, CLARO, no colegial é difícil entender sem noiar que certas pessoas são apenas bons colegas e que vão passar). E eu era legal! Juro que era!

Foi aí que eu devia ter percebido os primeiros sinais. Quando aqui ou ali alguém me acusava de "ser legal com todo mundo", de "nunca sair de cima do muro", de "fazer política da boa vizinhança". De ser "afetuosinho e mais nada."

Claro que não parece ter muito a ver, mas explico: é claro que muitas vezes eu tinha impulso de tomar partidos e ser mesquinho e estúpido como todo ser humano e meter o bedelho e dar pitaco onde não é chamado e ser ignorante e dono da verdade. Enfim, me chocar com as outras pessoas. Mas com o passar do tempo e com o conjunto de moral e bons costumes cristãos que foram sendo inseridos na minha cabeça... eu fui me podando. Eu tentava me tornar um apaziguador e... quantas vezes eu não engoli muitas verdades? Sei que comecei a perder a conta. É um processo tão natural pra mim que às vezes quando me dou conta já tô fazendo, botando panos quentes em cima de tudo.

Ou seja: no meu esforço em ser legal com todo mundo... quem será que eu realmente consegui tocar? Pense você, com 15 anos, tem uma daquelas brigas escrotas de colegial com alguém e o seu amigo decide que... bom, que você tem que se acalmar, beber uma água e não se pronuncia muito sobre o assunto... você não ficaria puto? Pois é. Isso aconteceu algumas repetidas vezes comigo... eu era o amigo que botava panos quentes. Sempre.

Tem outra frase que eu acho que nunca verbalizei mas sempre pensei: when you fit in everywhere you don't belong anywhere. Nossa, perdi a conta de quantas vezes eu me sentia carta fora do baralho, repentinamente, uma roda, muitas risadas, BAM! De repente eu não tava legal. De repente eu queria ir pra casa ouvir música. E eu às vezes ia. As lágrimas vinham...

Mas elas nunca rolavam. Nunca nunca nunca. Eu me acostumei sempre a tentar esfriar as coisas que eu já não tava conseguindo exteriorizar nada. Eu botava uma música animada, jogava um jogo no pc, pronto. "Passou".

E foi assim... assim eu me virei e cheguei até a faculdade! Vivo! Assim, uns arranhões, mas vivo.

Uns arranhões, muito poucos, o que é uma pena. Mesmo. Cheguei na faculdade me sentindo tão... cru. Passei a minha adolescência inteira sendo o filho coadjuvante exemplar, o amigo legal, o cara que NUNCA se envolvia com ninguém, homem ou mulher... o que de fato tinha acontecido de interessante comigo? Qual era o adjetivo que me descrevia?

(nossa, é bizarro como certas coisas agora parecem tão óbvias, tão óbvias... pqp)

A faculdade, por um lado, está me fazendo abrir os olhos para muitas coisas, mas, por outro... ignorance is bliss. Não foi na facul que meu "calvário" começou, mas certamente é essa a impressão que fica.

(e aqui o narrador se mistura, se perde no mofo... perde consciência de si. Ele é autor, é ator, é personagem, ele é o palco, é a peça... ele busca o nada e ironicamente se torna tudo. e nisso se perde e tenta abraçar o tudo mas sente ele voltar ao nada do mofo... o narrador se sente ainda mais vazio)

Sabe, caras como eu, coadjuvantes, se dão muito bem na escola, definitivamente. Não vou entrar no mérito "amizades de colegial são de aparência" porque eu de fato não creio que seja simples assim e eu ainda não tenho "tempo de formado" suficiente pra refletir muito bem sobre esse assunto. Mas convenhamos que a convivência forçada, de uma maneira ou de outra, ajuda muito. Afinal, você tem um cara lá, um bonequinho, um menininho todo "inho": bonitinho, legalzinho, inteligentezinho, engraçadinho, educadinho... você pode até não gostar muito do Menino Inho, mas, aah, convivendo com ele de segunda a sexta, pelo menos um coleguismo bacana surge, né?

Sem contar as matérias em si: tudo mastigadinho e o Menino Inho, inteligentinho, come tudo direitinho. Claro, ele é folgadinho, então não faz as lições de casa, mas isso só contribui pro perfil dele de engraçadinho...

Na faculdade, a realidade é brutal: ninguém quer saber do Menino Inho. Os professores não precisam ou desejam lidar com alunos interessadinhos; os colegas, cansados da vidazinha dos Meninos Inhos do colegial, querem tudo o mais ÃO possível.

Mas o Menino Inho, é claro, fica apenas chateadinho...

Fato é que depois de um certo tempo, alguém vê um brilhozinho no Menino Inho... e aí de repente, lhe oferecem uma segunda chance. E, pulando muita coisa, cá estamos.

Será que esse é o Ato Final do Menino Inho? Mas antes precisamos entender o que foi que aconteceu com o pobre Menino...

Assim como não lembro como tudo isso começou, me lembro muito menos quando foi que isso tudo me encheu.

Acho que eu tava no ônibus, indo pra Sorocaba. Tava um calorzinho chato, era noitinha e tava caindo uma chuvinha.

O Menino Inho é tão fraquinho que bastou uma chuvinha, né? Risos...

Mas de repente o ator por trás da maquiagem (agora borrada pela chuva) de Menino Inho se viu surpreendido no palco. Ele perdeu a concentração e não conseguiu improvisar nada e se refugiou atônito na cochia.

Lá ele se lembrou de todas as rodas de conversa em que ele estava lá apenas pra proporcionar risadinhas à platéia. E lembrou de tantas outras onde ele tentava dizer alguma coisa um pouco mais relevante que risadinhas, ironiazinhas e - BAM! - solenemente ignorado.

Sabe, o ator não é interessadinho. Ele é interessadÃO e talvez exatamente por isso ele seja apenas um coadjuvante: ele não quer saber apenas seus caminhos, mas o dos outros também. Sem hipocrisia, claro: isso provavelmente é fruto de uma curiosidade primordial, sem explicação, juvenil, infantil, uma sede de "?", o ator não é a Madre Teresa. Talvez seus motivos sejam egoístas e um pouco hedonistas às vezes, mas o ator não é egocêntrico.

E assim o ator aceita representar seu personagem famosinho em uma, duas, três, cinco, dez, duzentas peças, mil palcos diferentes...

E aí, no ônibus, o ator, que sou eu, finalmente chora. Claro, depois de anos representando o mesmo papel, ele leva muito dele consigo, então, na verdade, foram uma ou duas lágriminhas escorrendo de seu rosto. Mas o ator se vê sem chão. Depois de anos fazendo sucessinho, ele perdeu o tesão em representar seu personagenzinho.

Ele sabe que, culpa, responsabilidade, seja lá o que for, é dele. Claro, ele quem escolheu... mas ao mesmo tempo, será que deixar tudo pra si e ficar tudo por isso mesmo não é algo, digamos... facinho?

As pessoas sempre esperam umas das outras, fato. Podemos mudar "o que", "quanto", "como" esperar, mas esperamos, sempre. Feliz deve ser o ser humano que genuinamente não tem expectativas (não aquele que se priva de tê-las), por isso não se decepciona e não é surpreendido. Claro que, por isso, não existe ser humano feliz, não nesse planeta.

E o ator percebeu que ele sempre se esforçou, em vão, para não esperar nada em troca das pessoas. No seu esforço para representar um personagem bonzinho ele não lavou a parcela "má" (por falta de palavra melhor) de si, ele apenas a varreu pra debaixo do tapete.

E, bom, se dissemos que o ator havia perdido o chão, logo, o que segurava todas as coisas escondidas entre o chão e o tapete?

E ele se refestelou. Não que fosse muito bonito se orgulhar dos defeitos mas tentou os abraçar mesmo assim. Não é isso que todo mundo faz? pensou o ator. Ele estava cansado de não se encaixar em lugar algum.

E aí está o ator: sem chão, envolto numa nuvem cinza de fumaça. Ou seria verde de mofo? Sim, talvez verde escura, meio palpável, repulsiva, de mofo. De tantas coisas que ficaram escondidas sabe se lá por quanto tempo... Ele não gosta do mofo. Mas agora, ele precisa do mofo.

E ao inalar pela primeira vez o mofo, seu nariz arde mas... seu corpo amolece. Se enche de calor, de espírito, de Deus. Inalar o mofo era comer a hóstia.

Mas ele não queria comer a hóstia. O ator estava dividido entre a cristandade e o ser pagão. Mas será que isso tudo tem tanta diferença assim?

Uma batida na porta e o ator acorda do transe. Ele resmunga, se incomoda por ser importantezinho a ponto de ninguém mais se lembrar sequer de bater. A queimação breve, muito breve, estranhamente breve, anormalmente breve, desumanamente breve, da raiva se mistura por centésimos de segundo à fome roncando no estômago. Num estalar de dedos, a porta se fecha de novo. E ele se entrega ao transe de novo... que importa se o mofo existe ou deixa de existir? Eles todos iam ver, iam ver só.

O ator, por breves preciosos momentos, tinha conseguido se libertar dos pesados grilhões que também eram criação sua, somente sua, mas doíam tanto!

Cada elo foi forjado durante toda palavra engolida em seco, todo sorriso não só de meia intenção mas de meia intensidade, toda vez que ele queimava sozinho. (depois a queimação parou e o vermelho virou cinza...)

E ele se permitiu e se refestelou na sua condição de mortal e se lembrou de uma cena de um filme com Nicole Kidman e Anthony Hopkins...

Pra quem não conhece de fato o perdão, às vezes é necessário aprender o não-perdão. Ou, talvez, primeiro aprender a se perdoar por não saber perdoar e assim se aceitar. O ator estava cheio de expectativas, cheio de dúvidas, cheio de mofo. Nunca mais ele guardaria mofo debaixo do tapete.

E pela primeira vez em muito tempo, a vermelhidão voltou e o estômago queimou mais devagar. Ele se permitiu o masoquismo da raiva e deixou a "gastrite" funcionar por mais algum tempo... ele se perdoou. Ele fez um esforço, mesmo que pequenininho, pra dar a eles o que tinha de melhor. Agora eles iriam ver o que ele tinha de pior.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

vagalumes no escuro

Wake up, get ready to go
Pick up your clothes from the floor
Before another fight
Breaks out---

As I lay staring the moon
I hope this will end soon
Before my tears fall
I smile---

It's time I stop hunting
Fireflies in the dark
The tiny glow in the palm of my hand
Quickly fades, I'm on the hunt again

My wings---
Where are they now?
I do want to fly with you
And shine in the dark
But what if I fade?
What if I fall prey
To your web of deceiving
And die believing
That you're entangled
(When I'm entangled)
I'm entangled
(Dear, I'm entangled)

You lost yourself in the dark
Guess who's right there behind you
I can't seem to follow
I've lost my spark---

The night gets colder
And before it's too late
The fireflies surround me
Giving me warmth---

And as I leave the shadows
The truth lights up a fire
The fireflies are dead
I've been left behind

It's time I stop hunting
Fireflies in the dark
The tiny glow in the palm of my hand
Quickly fades, I'm on the hunt again

My wings---
Where are they now?
I do want to fly with you
And shine in the dark
But what if I fade?
What if I fall prey
To your web of deceiving
And die believing
That you're entangled
(When I'm entangled)
I'm entangled
(Dear, I'm entangled)
You're not entangled
(I am entangled)
I'm entangled
(I'm entangled)

I've let fireflies
Set the lights in my heart
Thought I had wings in my soul
But their buzz confused my mind

I've killed
The fireflies----
Who's gonna save me now
From the truth, somehow
I'm still entangled
(So damn entangled)
So damn entangled
(I'm still entangled)

Who's gonna save me now
(From the truth, somehow)
Who's gonna save me now
(From the truth, somehow)
I'm entangled
(I'm entangled)
I'm entangled
(I'm entangled)

It's time I stop hunting
Fireflies in the dark

Fireflies in the dark

Fireflies in the dark

Fireflies in the dark

Fireflies in the dark

Fireflies in the dark

Fireflies in the dark

Fireflies in the dark

Fireflies in the dark


Fireflies in the dark


Fireflies in the dark


Fireflies in the dark


Fireflies in the dark...