sábado, 26 de junho de 2010

quando fala a alma...

Pegando carona na frase que lhe dá título, sinto que este post mais vai parecer um trabalho de faculdade do que outra coisa: não consigo escrevê-lo, não sei como fazê-lo, mas ele precisa ser feito.

Quero falar sobre essa urgência. Sobre essa vontade incontrolada de vomitar, de cuspir, de berrar, de gritar, espernear, de dizer. Dizer. O quê? Dizer simplesmente por dizer? Não sei. Já não sei mais. Só sei que eu PRECISO dizer! Só sei que há esse caroço grudado, preso na minha garganta, um misto de vontade de choro engasgado com ânsia de vômito.

Sabe o alívio que se sente quando se vomita? Já imaginou estar vomitando por dias, semanas, talvez meses, e não sentir o alívio? E a explosão de caos no estômago e na sua cabeça continuam, sua garganta continua rija, tesa, se preparando para o desabafo final e... é sempre o penúltimo. É sempre ele, aquele último engasgo antes do fim. Mas o fim parece nunca chegar...

E nada satisfaz. Nada. Você tenta, tenta e tenta. Como eu estou tentando agora. Mas só consigo reler estas linhas e pensar... que porcaria. Mas dessa vez não quero voltar atrás. Só dessa vez. Me permitam só mais essa vez...

O problema de vomitar é que você sempre acaba causando desconforto em alguém. É nojento. É repugnante. E esse vômito linguístico que sinto não é muito diferente... O pior é saber que não só você causou incômodo mas... De repente, são tiros. Balas. Disparadas de mim para... Mim mesmo. Balas que parecem sempre bater em seus alvos e voltar de encontro a mim. Há uma redoma, fina, mas tão forte... Pensando bem, talvez seja o que eu mereça ao imaginar um diálogo na minha cabeça como um tiroteio.

Mas na sua cabeça você nunca quis atirar em ninguém, você nunca quis enojar ninguém. Você só esperava que entendessem... você PRECISA botar pra fora. E ainda assim... você sabe que a única coisa que você faz é criar um abismo cada vez maior. É como se para cada palavra proferida, a distância entre os falantes fosse de milhas e ela aumenta vertiginosamente. E com a vertigem... vem mais ânsia. Mais, mais, muito mais. Você sabe que o abismo vai aumentar mas você não consegue e você tenta se esticar e segurar com as duas mãos e toda a força que você tem... mas você carrega aquele nó na garganta por tanto tempo e ele aumenta cada vez mais e... Seu organismo finalmente vence e você bota tudo pra fora de novo.

E você bota tudo a perder de novo. As caras de incompreensão, de "quebra-cabeça", de "hein?", de nojo. Tudo o que você quer é fazer sentido. Tudo que você quer é ser compreendido. E aí você desiste. E aí você entrega os pontos e tenta ser educado e não vomitar no tapete alheio. Você segura até onde dá. Mas aí seu peito começa a doer, seus braços começam a ficar moles e de repente... A ânsia fica incontrolável. De novo. E de novo. E de novo.

Poderia dizer para sempre, mas não quero me sentenciar. Embora eu acho que a sentença já tenha sido proferida há muito, muito, tempo.

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Desenvolva a frase de Schiller: "Quando a alma fala, já não fala a alma."

Foda-se a explicação teórica. Foda-se o que a academia deseja que eu pense sobre esta frase.

Eu quero é saber o porquê. O porquê d'eu entender perfeitamente o que essa frase diz, num plano sentimental, emocional, racional, em todos os planos que conheço da minha existência.

O porquê d'essa frase mexer tanto comigo que eu não consigo sequer colocar em palavras o que eu sinto a respeito dela. E a respeito da maioria das coisas. Minha alma grita e se move para um milhão de direções ao mesmo tempo e só consigo reproduzir uma. E a dor de não conseguir reproduzir todas as outras 999.999 direções é HORRÍVEL. É lancinante. É como um pedaço de metal que corta breve a carne do meu peito e primeiro eu sinto o frio e um arrepio e depois tudo queima, arde, pulsa.

Por que o sangue desses cortes não corre solto e me mata logo, em questão de minutos? Por que ele tem que gotejar pouco a pouco? Até quando vou ficar assim?

Por que tenho esse anseio de botar a alma pra fora, de deixar ela falar, fluir, sair? Por que ela não se aquieta de vez dentro do meu peito, quietinha, como uma fera domada, ou pelo menos saciada?

Por que continuo enfiando os pés pelas mãos, tateando no escuro? Minha alma grita e me açoita por dentro, eu preciso tomar uma atitude, mas sempre que faço o que acho melhor, sempre que (me) exponho, digo, penso, expresso... Parece que alguém sempre sai ferido, além de mim, no fim das contas.

Então esse é o preço de buscar a minha paz? É vomitar veneno? Então talvez seja bom que minha fala crie abismos entre mim e o mundo.

E tudo o que eu queria era ser compreendido. E tudo que eu queria era acalento. E juro que não só pra mim. Mas parece que sempre termina em choro. Toda vez que abro a boca, alguém no mundo chora. E me dói saber que não consigo trazer paz para mim nem pra ninguém.

E se a dor de não conseguir dizer tudo é grande, então a dor de dizer 1/1.000.000 do que se tem pra dizer e mesmo nessa pequena parcela você ser incompreendido é... inominável. Inominável.

Será que ninguém consegue ver? Será que ninguém vai conseguir entender o que eu tô dizendo? Pelo amor de Deus, alguém precisa no mínimo ver que toda vez que a comunicação se parte, se racha, eu choro por dentro. Me expresso mal, sou mal-interpretado e fico doendo, doendo... Morrendo de medo e dor de pensar que um diálogo que deu errado pode ter uma infinitude de consequências drásticas, horrorosas e terríveis. E aí eu queria passar uma borracha e voltar atrás de tudo...

Por que a gente sente esse anseio de comunicar? De que adianta a linguagem ter nascido desse anseio de comunicar se a comunicação é sempre falha? E se... Talvez não faça sentido isso e me doa mais ainda por dentro por não ser compreendido, mas se a linguagem nasceu por que não nos entendemos, então o ideal seria não nos comunicarmos. Só consegue compreensão aquele que não diz nada.

E mesmo depois de ter escrito tudo isso, ainda sinto que falta mais coisas. Muito, muito, muito mais coisas! Quero pedir desculpas e não sei por quê, não sei pra quem.

Só sei que eu queria conseguir me calar. Não aguento mais. Quero um mundo preto e branco onde eu seja só lágrimas, cigarro e nada mais. Não quero falar.

Nós não falamos a língua, nós somos falados pela língua

ENTÃO ME DEIXA EM PAZ! NÃO QUERO FALAR, NÃO QUERO FALAR, NÃO QUERO FALAR, NÃO QUERO FALAR, NÃO QUERO FALAR! PARA DE ME USAR, PARA DE ME FAZER DIZER COISAS, PARA DE ME MACHUCAR!

E se existe Deus nesse mundo, hoje, pelo menos, me calo.


sábado, 12 de junho de 2010

Carta para meu ex

(Esse post começou como uma série de testimonials no orkut mas achei melhor postar aqui. Recomecei porque não consegui achar. Será que cliquei no "cancel" sem querer? Enfim...)

Oi. Passei pra ver como você estava.

Sei lá, tô bem sensível, acabei de levar uma rasteira bem forte da vida e tô aqui refletindo... Sempre que alguma coisa forte acontece a gente para pra fazer uma retrospectiva, né? Acho que é natural. Aí lembrei de você. E resolvi que queria te dizer algumas coisas... Espero que você não ache nada disso invasivo.

Tô muito feliz de ver que você tá bem! Tô muito feliz de ver que você continua bonito. Tô muito feliz de ver que você continua com aquele sorrisão de criança. Tô muito feliz de ver que você fez a tatuagem que tanto queria! Tô muito feliz de ver que você parece tá saindo mais, indo pra rua, encarando o mundo.

Tô muito feliz de ver que você, finalmente, tá na faculdade! Tô muito feliz de ver você dando um passo pra ser tudo o que você quer ser. Ou quis, né? Não sei, sonhos mudam. Mas independente de os seus terem possivelmente mudado, é um passo a mais pra provar pra você mesmo que... você nunca precisou provar nada pra ninguém. Mas espero que as descobertas dos terrores de uma universidade pública não te deem medo nem raiva. Sempre te disse que a universidade não era cor-de-rosa e a descoberta é frustrante mas necessária. Enfim, espero que você esteja ganhando mais tranquilidade com as experiências da facul.

Espero que você ganhe mais tranquilidade com a vida. Espero que você e sua mãe consigam se entender - não do jeito milagroso que eu, que sou um chato, hipócrita, pentelho e entrão queria. Quem sou eu pra querer alguma coisa por vocês? Mas que você consiga ter paciência com ela. Que se lhe faltar amor de filho para mãe, que lhe sobre compaixão.

Espero que essa depressão, essa maldita doença, finalmente lhe dê sossego. Ou espero que você dê sossego a ela - que consiga lidar com a existência dela, que consiga driblar seus artifícios, suas armadilhas e que você não a use mais de muleta quando ela na verdade é mais uma bigorna na cabeça do que um apoio para os pés.

Fico feliz de ver que você está se envolvendo com outro cara! Ele parece ser bacana. Desistiu de pegar urso versão light e voltou pro original, é? Hahaha... Vocês ficam muito bonitinhos juntos. E acho que ficar "bonitinho" é muito mais legal que qualquer outra coisa pra um casal, né? Melhor que ficarem "lindos", "combinarem muito", "parecerem ter muita química" (embora ter a química em si seja ótimo, sempre!) e essas coisas.

Espero que você e ele formem um casal saudável e feliz, pelo tempo que tiver que rolar. Que dure o tempo que tiver que durar e que ninguém saia (mais) machucado (do que deve). Que se ele tiver que ser o cara que vai te dar sua casa e batalhar os sonhos que você dividia comigo, então que seja tudo maravilhoso! Mas que se ele não for, que nenhum de vocês faça o outro sofrer. Que nenhum de vocês aja de forma cruel com o outro. Que nenhum de vocês jogue coisas na cara um do outro. Que nenhum de vocês perca a cabeça e perca a gentileza e delicadeza junto.

Acho que isso foi mais pra mim mesmo do que pra você... Me sinto muito culpado por minha parte no desgaste da nossa química. Prometi que seria forte, firme, paciente e... como sempre na vida, falei mais do que devia. Não pude bancar o que prometi. E é óbvio que isso já não é um problema - você está feliz com outro cara - mas ainda assim, me sinto culpado. Espero que você consiga me perdoar por isso um dia.

Que ele seja tudo isso que eu não pude ser - paciente e compreensivo. Que ele sempre possa e consiga te acalentar naqueles dias que nem mesmo um acontecimento sobrenatural ou sobre-humano consegue fazer seu choro - tão sincero, tão doído, choro de neném que sofre de verdade a ausência do peito da mãe ou do brinquedo, seu choro sempre arranhava meu coração de cima a baixo - passar. Que ele te ame muito, muito, muito.

Pensando agora, dá uma ponta de tristeza pensar que tenho que acompanhar sua vida à distância agora, mas acho que nós dois sabemos o porquê e não há o que questionar, né? Mas é muito esquisito. A gente curtiu tanta coisa junto... A gente passou por tanta coisa junto. Acho que você viu coisas em mim que talvez nem meus pais, que montaram esta porcaria de quebra-cabeça desengonçado, incompleto e pobre que eu sou, conseguiram enxergar qualquer vez na vida. E eu me inseri tão forte na sua vida, tão forte... E agora cá estamos nós, sem nos falar. Não que eu ache que devemos ser amigos - não é assim que funciona. Se for pra ser, então seremos, mas acho que não é isso que vai acontecer, né?

Mas queria que você soubesse que ainda sinto... Não sei, não é amor, não é carinho, mas tem um pouco dos dois. É um sentimento tão etéreo e como você é o primeiro ex que tenho, pra mim é algo muito novo. Só sei que é uma coisa boa. Mas ao mesmo tempo é triste, o que é estranho. Não deveria ser triste, afinal, nós dois estamos aí, vivendo nossas vidas e sendo felizes, genuinamente! (talvez eu deva me excluir dessa parte pois agora sou qualquer coisa além de feliz, enfim...) Mas é triste lembrar que... deu errado. Que o amor acabou. E não acabou só pra um, acabou pros dois, acho que na mesma hora. E mesmo com essa reciprocidade do fim... É triste. Será que é triste pelos sonhos que a gente teve que enterrar?

Os sonhos... O sonho de ser o "Doutor Araújo", né, senhor rouba-nome? O sonho de ter uma cara, um carro e cachorros. Possivelmente filhos. Não que nós ainda não sonhemos com isso (na verdade, eu não sonho mais com isso, mas espero que você ainda não tenha se privado desse sonho) mas agora é com outras pessoas, outras casas, outros cachorros, outros carros, outras vidas medíocres dentro desse sistema porco, outras viagens pra outros países (embora eu desconfie que o Japão e a Inglaterra ainda estejam no seu mapa dos sonhos), outras línguas a serem aprendidas juntos, outros bebês para mimar e dividir a experiência da paternidade...

Juro que tentei recontar na carta os nossos sonhos em conjunto, mas eram tantos, né? Acho que não consegui. Mas tenho certeza que você sabe. E se não se lembra, oh, tanto melhor pra você - não me incomodo de ficar de luto por essas coisas sozinho.

E, sabe, mesmo não me arrependendo de nada, talvez a palavra seja essa. Luto. Não me permiti ficar de luto por você, por nós. Sei lá, tive uma oportunidade de viver outra história com outra pessoa logo em seguida e... Não tive dúvidas. Entrei no barco. Enfim, acho que não condiz com esta carta dizer todas as implicações desta viagem, mas, pelo menos até o presente momento, tudo indica que ela também acabou. E agora eu estou aqui, na praia, olhando meu mar, sozinho outra vez.

E dentre as coisas que vejo, tem você... E queria que você soubesse que, por mais turbulento que tenha sido, não me arrependi do ano inteiro que tivemos juntos. Que não foi perfeito mas a gente deu o melhor de si pro outro. E é triste que nosso melhor não tenha sido suficiente mas... pelo menos não foi por falta de entrega, de companheirismo... falta de Amor não foi o que matou a gente. Então, acho que a gente pode seguir de cabeça erguida e consciência tranquila.

Queria que você soubesse que vou levar você sempre comigo, dentro de mim. Que você foi muito importante, mesmo, que eu aprendi DEMAIS (mesmo sendo prepotente e tentando te ensinar tanta coisa, hahaha! Mas juro que não foi por maldade) com você. E que, talvez... Talvez ninguém mais vai me amar do jeito que você me amou. Talvez ninguém mais vai se dedicar tanto a mim quanto você se dedicou. E que eu vou ser eternamente grato às forças que regem este mundo por você ter sido a primeira pessoa. A primeira pessoa que não só permitiu que eu tocasse sua alma como sentiu um anseio enorme de que isso acontecesse.

E aconteceu, não?

Jojo, você não foi meu marido, mas sempre vai ser meu primeiro namorado.

Se cuida!