segunda-feira, 5 de julho de 2010

primeiro degrau

era uma tarde chata. muito, muito chata. não chegava a ser maçante pois pra mim "maçante" sempre casa bem com "mormaço" e esse frio paulistano de Julho não combina com a ideia.

mas era uma tarde bem parada. aquela sensação semigélida estava no ar mas não tinha nenhum ventinho pra balançar as árvores, nenhum passarinho cantando na janela, nada. o Sol não deu as caras mas também não se escondeu, porque o dia não estava exatamente nublado. como eu disse, chato.

claro que algum espertinho vai querer dizer que "ah, segundas-feiras são desse jeito mesmo", mas não é o caso. essa tarde não tinha esse quê de responsabilidade, de pressão, de recomeço da rotina que uma tarde chata de segunda-feira tem. era apenas... chata. essencialmente chata. chata sem razão. chata sem motivo. não dava pra culpar o calor inexistente, o frio, a segunda...

e talvez por isso essa tarde meio chata, meio besta, tenha sido um dia tão marcante. porque precisava ser? porque era necessário negar que o mundo é capaz de ser tão... excruciantemente chato? é, talvez. mas acho que... porque um dia chato desses é quase como uma negação do externo. o ambiente não me propunha grandes surpresas. estávamos apenas eu e eu. por um instante, o mundo parou e era só eu. e isso tem tudo a ver com a reflexão e a descoberta que eu fiz, a ausência do ambiente. não só precisava fazer alguma coisa, dependia só de mim quebrar aquele marasmo, como também me vi livre, parando pra pensar agora. quase perdi a chance de aproveitar essa liberdade, mas de certa forma consegui rs

a tarde ia chata como de costume, as janelas abertas deixavam entrar aquela sombra do que um dia o Sol já foi ou a promessa do que ele pode ser quando esse inverno chato terminar. andava pela casa quando me deparei com o corredor. Lá, na minha frente, estava ele. e eu não pude escapar dele dessa vez.

o corredor de casa tem um quê de opressor, então talvez o ambiente não tenha sido fator nulo como eu descrevi rs. aquela iluminação fraca, pálida, o corredor pequeno, porém vazio e somente uma coisa entre você e o conforto e privacidade dos quartos. é impossível não olhar pra ele. é impossível não se olhar. e, talvez, como não havia nenhuma pressão externa, a pressão do corredor venceu: como eu iria abaixar a cabeça e seguir adiante? quais compromissos eu ia lembrar, fingir, inventar numa tarde chata e tediosa? que desculpa eu poderia dar pra mim mesmo? estava totalmente desarmado. aberto. desprevenido. ingênuo. talvez fragilizado.

olhei no fundo dos olhos. que eu finjo que não conheço, mas conheço muito bem. que foram do natural à surpresa à vergonha e depois ao olhar plástico de quem fazia o que eu estava fazendo em milisegundos. mas por um instante, eu vislumbrei. consegui! sem querer e contra minha própria vontade, consegui quebrar minhas próprias defesas. me invadi! me feri!

e talvez mais importante que isso tenha sido descer os olhos. e... sorrir. talvez muitos de vocês não entendam. talvez ninguém entenda. mas... pra mim é importante. e se não for a barreira essencial pro meu crescimento, é a primeira, a que está logo no começo, os portões de mármore (existe isso, de mármore? foda-se, os meus são rs) que controlam a passagem. que me deixam... refém. refém, aqui, da minha cabeça, das minhas piras, das minhas inseguranças.

talvez seja meio narcisismo. talvez seja muito narcisismo. talvez seja abominável. mas talvez eu precise aceitar que tenho um narcisismo distorcido pra conseguir seguir em frente. talvez eu precise usar isso de muleta pra ser tudo que eu quero ser, sim. mas foi muito bom. foi tranquilizante. eu comigo mesmo não precisei me criticar. não precisei apontar defeitos. eu pude... me aceitar. me admirar. não precisei temer ser feliz comigo mesmo e ver alguém chegar e assoprar o castelinho de areia que é minha autoestima.

é horrível, tenho até vergonha de escrever isso porque pode ficar brega, pode ficar feio, mas... ah, não quero mais ter medo disso também! então que saia do jeito que sair. porque não quero mais, não quero mais, não quero mais ter medo, não quero mais me punir e me esquadrinhar antes que alguma alma infeliz o faça, e talvez nem queira mais ter medo dessa gente que faz esse tipo de coisa! cada um sabe de si e que eles tomem essa postura ridícula se tiverem que tomar. cansei. cansei!

eu me olhei no espelho e vi um homem. um homem ainda novo, mas um homem. um homem sem camisa. um homem perfeito? de forma alguma. mas, mesmo um pouco acima do peso... um homem bonito. um homem atraente. um homem, que mesmo não sendo perfeito, mesmo não tendo o corpo perfeito, é um homem no sentido mais sexual da palavra. um homem. um homem com corpo de homem, com ombros largos, com tronco grande, com pernas que podem aguentar o peso metafórico e físico de ser assim. um homem.

como disse, talvez muitos de vocês não entendam. também não sei explicar! sei que é importante pra mim. sei que é importante pra mim mexer no âmago, nas vísceras. eu quero ser aquele que vai mexer no primeiro instinto básico. quero ser animalesco. quero ser pele. e só.

eu não quero mais ter vergonha de gostar de mim mesmo! eu gosto. e um dia isso vai ser só o que importa. :)

quero ser o homem que um dia vai poder cantar, de peito aberto, esse verso:

when I look at myself in the mirror
I don't have to feel ashamed
now it couldn't be much clearer
I'll never have to search again
when I look at myself in the mirror
I don't even recognize
the boy all about the glitter
cause now I see me by my side
when I look at myself in the mirror...

Boa noite!
;***

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